Para explicar a fase de travagem concêntrica e compará-la com o movimento de agachamento gravitacional e inercial, Pedro Sebastián, Licenciado em Ciências da Actividade Física e do Desporto falou sobre as conclusões do seu estudo e a maneira como estas podem melhorar o rendimento físico de um atleta e a prever lesões.

Treino de força: evolução e desenvolvimento

No post “Máquinas isoinerciais: prevenção de lesões no futebol” é abordado o tema do treino de força e maneira como este evolui actualmente. Hoje em dia são muitos os aparelhos que ajudam os profissionais a medir e aperfeiçoar o seu método de treino. Estes aparelhos são conhecidos como encoders e permitem o armazenamento de uma grande quantidade de informação valiosa, especialmente para os treinadores e personal trainers.

Diferentes estudos como o realizado por Sánchez-Medina et al. (2010) afirmam que na grande maioria dos exercícios de força, durante a fase concêntrica do levantamento, existem duas fases: propulsiva e de travagem do exercício. Assim sendo, afirma-se que o movimento começa com uma velocidade “0” e, após o início, produz-se uma aceleração (a) onde a ≥ gravidade (g) e é alcançado o ponto máximo de potência e velocidade.

No final da fase de aceleração é alcançada a fase de travagem concêntrica e os valores de velocidade voltam novamente ao 0. Este processo não acontece quando são realizados exercícios com o levantamento de cargas altas. Como por exemplo, o exercício de press de banca:

  • A partir de 76,1 ± 7,4% 1RM e uma velocidade média (VM) de 0,53 ± 0,07 m/s: a fase de travagem desaparece concêntrica, coincidindo VM=VMP e a Potência Média (PM)= Potência Média Propulsiva (PPM), ou seja, em nenhum momento P<0. Assim sendo, a VMP pode ser definida como a velocidade obtida graças aos valores médios da fase de aceleração do exercício.

Fase de travagem concêntrica e velocidade

Segundo o explicado anteriormente, podem ser elegida diferentes tipos de velocidade (VM, VMÁX, VMP) para realizar estimativas de intensidade. A velocidade média da fase concêntrica (VM) faz referência aos valores médios da velocidade dessa mesma fase por completo, ou seja, são contabilizadas tanto a fase propulsivas como a fase de travagem.

A velocidade máxima (VMÁX) é o ponto onde a função da velocidade com respeito ao tempo alcança o seu ponto máximo e, por último, velocidade média propulsiva (VMP) são os valores médios unicamente da fase propulsiva (aceleração positiva).

Figura 1. J. J. González-Badillo & Sánchez-Medina, (2010)

De todos estes valores, o que se deve observar é a velocidade média propulsiva (VMP), ou seja, será utilizada a VMP que desenvolve a barra durante a fase concêntrica do exercício como medidor de intensidade (% de 1RM) que se utilizará em cada série (Sanchez-Medina, Perez, & Gonzalez-Badillo, 2010). Este método auxilia a precisão do cálculo da carga a utilizar, porque a porcentagem de 1RM e a VMP têm uma relação muito estreita e fechada R2=0,98, independentemente do nível dos sujeitos em questão (J. J. González-Badillo & Sánchez-Medina, (2010)- Picerno et al., (2016)).

Este termo é importante porque se é calculada potência ou o RM com a VM de todo o trajecto concêntrico, pode induzir em erro a predição da carga a utilizar para porcentagens de RM médios-baixos já que a VM seria inferior ao contabilizar a fase de desaceleração (onde a força se desenvolve no sentido contrário ao movimento). Sánchez-Medina et al.(2010) concluíram destacando a importância dos valores mecânicos médios da fase de aceleração do exercício para o controlo e a avaliação do treino de força.

Recentemente, desenvolvi um ensaio clínico com o professor Fernando Martín Rivera no qual eram comparadas as variáveis: cinética e cinemática do exercício de agachamento com máquinas isoinerciais (EPTE® Inertial Concept) e peso livre, para orientar e dar informação aos diferentes profissionais da actividade física e do desporte. Pedro Sebastián.

 

Conclusões do estudo sobre a fase de travagem concêntrica

Tabela1.
Estatísticas descritivas das provas T para o exercício de agachamento com a máquina isoinercial EPTE® Inertial Concept vs agachamento gravitacional:

N=5; VM: Velocidade Média (m/s); VMAX: Velocidade máxima (m/s); VMP: Velocidade Média Propulsiva (m/s); WAT: Potência (Wats).

Tabela 2.
Correcções de provas T.

N=5; VM: Velocidade Média (m/s); VMAX: Velocidade máxima (m/s); VMP: Velocidade Média Propulsiva (m/s); WAT: Potência (Wats).

Figura 2. Gráfico comparativo do sujeito nº 2: inercial vs gravitacional da velocidade em relação ao tempo: linha vermelha- agachamento gravitacional / linha azul- agachamento inercial.

Realizando uma análise sobre os dados recolhidos, diante de uma carga igualada (em ambos os tipos de exercício foi utilizada uma carga com a que o sujeito alcançava a sua máxima potência média) não existem diferenças significativas nem a nível de VPM, nem VMÁX, mas sim na VM. O dado mais relevante foi o facto de a VM no agachamento gravitacional ser menor que a VMP (prova 2: VM=VM=0,84 m/s contra a VMP=0,92 m/s)

Neste sentido, o agachamento com a máquina isoinercial, a VM é maior que a VMP em ambas as provas (prova 2: VM=1,06 m/s contra a VMP=1,02 m/s). Esta diferença pode ser apreciada e devidamente explicada observando a figura 2 onde é possível concluir que no agachamento com barra a velocidade consegue um pico muito pronunciado no final da fase concêntrica e baixa rapidamente (desacelera).

A essa desaceleração durante o registo de movimento denomina-se fase de travagem concêntrica e ao ter a condicionante dessas características faz com que a VM durante o agachamento gravitacional seja menor que a VMP durante o mesmo exercício. Pelo contrário, o agachamento realizado com máquinas isoinerciais, observando o mesmo gráfico, pode ver-se como o pico onde se consegue a VMÁX é mais constante. Isto concreta que a a VM na exercício inercial é maior que a VMP na mesma máquina.

Posto isto, à falta de estudos científicos, pode dizer-se que no agachamento com peso livre, dentro da fase concêntrica há uma fase de travagem concêntrica maior que na máquina isoinercial.  

Devido às características mecânicas das máquinas isoinerciais como a EPTE® Inertial Concept, penso que a fase de travagem concêntrica de mesma, não se produz pelo sujeito que realiza o exercício mas sim pela máquina que utilize. Isto acontecer porque no final da fase concêntrica a corda que estamos a utilizar se desenrolou totalmente do volante de inercia (flywheel) e por isso o rádio efectivo é menor. Este acontecimento faz com que para uma velocidade angular instantânea, a velocidade lineal decresça mesmo que se apliquem várias forças propulsivas Vlineal= W×Refectivo. Pedro Sebastián

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